A Coordenação
de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto
Alegre inaugura em 26 de novembro, às 19h, a exposição
as imagens estão nos olhos, as vozes esperam,
de Luane Aires e Rebeca Rasel, na Galeria Lunara (5º andar
da Usina do Gasômetro).
Luane e Rebeca, ambas
residentes no Rio de Janeiro, apresentam, por meio da fotografia e do
vídeo, uma narrativa de paisagens interiores, onde o sentido dos objetos e
frases presentes em cada trabalho se manifesta de forma incidental e indireta,
ou seja, sem recorrer a uma previsibilidade narrativa.
LuaneAires_Das fronteiras no interior |
Segundo Cesar Kiraly,
que assina o texto crítico desta exposição, "Poderia ser pensado que Rebeca
Rasel e Luane Aires traduzem algo para um narrador ausente, mas, no fundo, não é
nada disso: a narrativa e o indireto estão nas coisas. A coisa não se conta: ela
agiria. (...) Ora, não é o caso de ter alguém contando, e por isso não é o caso
de fazer um problema do rosto ausente, quando a questão é que, pelos objetos,
ele se conta. E não o faz como alguém que precisa dar explicações do porquê
ainda não fez isso ou aquilo. Mas como um narrador que não se distingue dos
objetos que perde. Está aí (...) Na taça à parede. Nas pernas de tornozelos
finos por detrás das cortinas. Nas mãos. Mas também no porta-retratos, na
cadeira ao lado. Na infidelidade ao fundo. É uma série de paisagens interiores,
de um sem número de seres pendurados (...); (e) o narrador posto no prego. (...)
Rebeca opta pelos enigmas formais e Luane pelos temporais – ele dizia. Mas ambas
são líricas, e se valem de certa outonalidade do feminino, para tanto. A forma e
o temporal são manejados como o estranho. No caso da forma é a tomada de posição
não anatômica para o sentido dos objetos ou das frases. No temporal é o
congelamento. A cena aconteceria em movimento, mas parada, chove. Nada melhor do
que um bom conceito para fazer do narrador um morador das coisas. Entre um ponto
e outro resta o poder de deformação afetiva das extremidades que se atraem, algo
distorcido, algo vibrante – o campo produzido, de perto."
Luane
Aires é
Pós Graduada em Arte e Cultura
pela Universidade Cândido Mendes e Bacharel em Artes Plásticas pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, frequentou diversos cursos na Escola de Artes
Visuais do Parque Lage. Participou do 12º Salão de Arte Contemporânea de
Guarulhos. Guarulhos/SP, 2013, no qual recebeu Menção Honrosa pelo júri técnico
e o 10º Salão de Arte Contemporânea de Marília. Marilia/SP, 2013 onde recebeu o
Prêmio Referência Especial do Júri. Destacamos ainda Como se espelhasse
alguém, CCJF/ RJ, 2014, I Prêmio MMBH. Belo Horizonte/MG,
2013. International Video Art Festival VIDEOHOLICA 2013 [OUT OF FOCUS!], edition
6. Varna Puppet Theatre, Varna/ Bulgária. I Salão de Outono da América Latina-
Galeria L’oeil da Aliança Francesa. São Paulo/SP, 2013. Vênus Terra- Galpão TAC.
Rio de Janeiro/RJ, 2012. Novíssimos 2012- Galeria IBEU. Rio de Janeiro/RJ, 2012.
RebecaRasel_A figura feminina |
Rebeca
Rasel é
Artista visual, graduada em História da Arte/Licenciatura e mestre em Artes
Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, dentre suas principais exposições destacamos: Como
se espelhasse alguém, CCJF/ RJ, 2014. Arte Londrina 2/ PR, 2013. 1º Prêmio
Moldura Minuto/ BH, 2013. FUTURO Salão de Arte Contemporânea/ SP,
2013. Assim sem você , Galeria Oscar Cruz/ SP, 2011. Como o
tempo passa quando a gente se diverte, Casa Triângulo/ SP, 2011. Conversa de
Artista Amarelonegro/ RJ, 2011. 17º Salão Unama de Pequenos Formatos/ PA, 2011.
39º Salão de Arte Luiz Sacilotto/ SP, 2011. entre-vistas, EAV Parque Lage/ RJ,
2010. 12º Salão de Artes de Itajaí/ SC, 2010.
As imagens estão nos
olhos, as vozes esperam
Luane
Aires e
Rebeca Rasel
Abertura dia 26 de
novembro, às 19h
Galeria
Lunara
(5º andar da Usina do Gasômetro)
Av. Pres. João Goulart,
551 – Porto Alegre – RS
Visitação, de 27 de
novembro de 2013 a 05 de janeiro de 2014
Texto critico
de Cesar Kiraly (Professor de Teoria Política da Universidade Federal
Fluminense/RJ) elaborado especialmente para a exposição.
– Quem fala? – alguém quis
saber.
Se pudéssemos
dizer assim, escreveríamos que a exposição aborda o indireto pela fotografia, a
necessidade do incidental; talvez fosse reflexo e não abandono, nem melancolia,
poderia ser pensado que Rebeca Rasel e Luane Aires traduzem algo para um
narrador ausente, mas, no fundo, não é nada disso: a narrativa e o indireto
estão nas coisas. A coisa não se conta: ela agiria, assim mesmo, sem travessão.
Então, os pedaços de mulheres e objetos suspensos resistem a resumir o problema
em termos de: ‘para onde se está indo?’ Ora, não é o caso de ter alguém
contando, e por isso não é o caso de fazer um problema do rosto ausente, quando
a questão é que, pelos objetos, ele se conta. E não o faz como alguém que
precisa dar explicações do porquê ainda não fez isso ou aquilo. Mas como um
narrador que não se distingue dos objetos que perde. Está aí [.] Suspenso [.] Na
taça à parede. Nas pernas de tornozelos finos por detrás das cortinas. Nas mãos.
Mas também no porta-retratos, na cadeira ao lado. Na infidelidade ao fundo. É
uma série de paisagens interiores, de um sem número de seres pendurados, lustres
de tamanhos variados, artifícios para o prender janelas ao vento, quadros de
frente e de lado, a pilha de papéis a esquecer o seu leitor na frase ainda
legível. O narrador posto [...] no prego.
Muito se pensa
sobre a forma escrita da imagem ser aquela em que o indireto pode ser melhor
manejado, e tal se deveria ao fato de ser nela em que o narrador, pela
distância, poderia dar beleza aos acontecimentos. O cinema também poderia
fazê-lo, ainda que limitado em comparação com a literária. Se disséssemos que na
fotografia o narrador deveria ser encontrado na objetiva, ou na perspectiva por
ela escolhida, ficaríamos surpresos com, muito embora a feliz especificidade, o
quão reduzida seria a capacidade formal da narrativa. – Trata-se do que é
contado pelo artista – ela concluiria, e isso seria muito pouco. Ainda que a
sequência pudesse ser um artifício, ora, com razão, sentiríamos não ser a mesma
coisa.
Dito isso,
estamos diante de fotografias de duas artistas, que, pensam pelo conceito, em
sua forma mais doce. Isso quer dizer que quando se expressam, estabelecem dois
pontos: um tradicional e outro estranho. O primeiro pode ser a própria
fotografia como suporte, ou o aspecto reconhecível das madeiras do chão ou da
pilha de papel. Há uma confortável referência, que nos faz
vulneráveis por distração, posição da qual brotará o estranho. Sim, tal poderia
ser feito sem ter conceito. Mas notemos que as artistas sabem fazê-lo brotar, o
que o provoca à tona é que os pontos são levados a uma atração, por necessidade,
e essa estabelece alguma tensão para a imagem. Por exemplo, pontos que
estabeleçam distância muito lateral, podem lateralizar o conceito ou interpelar
a parte não conceitual, por oposição. – Rebeca opta pelos enigmas formais e
Luane pelos temporais – ele dizia. Mas ambas são líricas, e se valem de certa
outonalidade do feminino, para tanto. A forma e o temporal são manejados como o
estranho. No caso da forma é a tomada de posição não anatômica para o sentido
dos objetos ou das frases. No temporal é o congelamento. A cena aconteceria em
movimento, mas parada, chove. Nada melhor do que um bom conceito para fazer do
narrador um morador das coisas. Entre um ponto e outro resta o poder de
deformação afetiva das extremidades que se atraem, algo distorcido, algo
vibrante – o campo produzido, de perto.
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