A Coordenação de Cinema, Vídeo e
Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre inaugura dia 24 de
abril, às 19h, a exposição Somatório dos Meios, de Karina Zen, que
ocupará a Galeria Lunara (5º andar da Usina do Gasômetro) até 25 de maio.
A
exposição, com curadoria de Josué Mattos, apresenta, através de fotografias, vídeos e projeções,
a relação entre o sujeito e o meio em que vive.
Nas palavras da
artista:
“A paisagem não nos é dada,
é algo que construímos num processo constante de interferência entre o sujeito e
o ambiente. Nossas escolhas são inicialmente confinadas dentro de uma paisagem
cultural. Construímos nossa identidade dentro de alguns dos espaços que nos são
oferecidos e nos relacionamos a partir destes, mas também podemos sugerir novos
espaços e criar outras relações.
Neste percurso entre o
interior e o exterior, contribuímos para a construção e desconstrução mútua”.
Karina Zen nasceu em São
Paulo, cursou a Escola Riccardo Bauer em Milão, Itália, onde se qualificou como
fotógrafa com especialização em cor. Utiliza o vídeo, a instalação e a
fotografia em suas obras. Atualmente vive e trabalha em
Florianópolis.
Abaixo texto de Paula Braga, sobre
a exposição:
Os fazedores de
mundo
O espaço ocupado por alguém é
sempre um espaço novo, criado naquele instante. Duas fotografias mostram um
coqueiro à beira de um lago. É o mesmo coqueiro? Mesmo se for,
será elemento de um espaço diferente em cada fotografia, pois é ocupado por uma
pessoa diferente de cada vez. A experiência de cada um, naquele espaço com o
coqueiro, é única.
Na video-instalação E.N. e L.I.
Karina Zen explicita essa ideia do espaço que nunca é o mesmo. Quantos coqueiros
existem naquela paisagem? Quantos forem as pessoas a vivenciarem aquele espaço.
As duas projeções de fotografias da década de 1950 ora mostram o coqueiro
ocupado por um homem, ora por uma mulher. E eles nunca se encontram, como nunca
se encontram as percepções de mundo de duas pessoas diferentes ou da mesma
pessoa em tempos diferentes. Passa o tempo, muda o coqueiro, o dela é um, o dele
é outro. O coqueiro continua lá até hoje, em um sítio em Brusque, Santa
Catarina. Mas não é nenhum dos coqueiros dessas fotografias do suposto mesmo
coqueiro.
Então isso que chamamos de mundo
é uma convenção que tenta unificar experiências múltiplas, distintas. Cada um
faz o mundo com seu corpo, na experiência individual e incompartilhável de
percepção das coisas. Cada um faz o mundo com seu sopro, moldando-o, inflando-o,
fazendo-o ser aquele mundo específico, que se desfará quando o fazedor de mundo
não estiver mais agindo para constituir mundo. Para o sopro, murcha o mundo.
Outros se inflam no mesmo instante.
A paisagem de mundos que existem
em paralelo, mundos criados por corpos diferentes, e que chamamos, no singular,
de mundo, como se fosse único, intriga Karina Zen, que adota a fotografia e o
vídeo, esses supostos registros mecânicos do real, para investigar a
simultaneidade de mundos. O real talvez seja uma garrafa cheia de mundos, tantos
quantos forem os grãos de areia de uma paisagem praiana. No vídeo Garrafinha, a
paisagem construída com areia colorida é derramada em sua multiplicidade de
grãos num espaço indefinido, vazio, desorganizando a cena típica do artesanato
brasileiro; o casebre à beira do mar com coqueiros e passarinhos volta a ser uma
mancha informe de grãos, volta a ser o material de que é feito o mundo antes de
ser moldado por um entendimento específico e singular. Reorganizando todos
aqueles grãos coloridos, quantas outras cenas conseguiríamos gerar? Depende de
quantos estiverem a organizar a mancha, aplicando-a a conceitos de real.
Os personagens vegetais da série
de fotografias Dona Morellli - Família Pereira – Dona Jandira vivem um mundo que
é só deles, aqueles interiores domésticos calmos, sem eventos, que adivinho
quando, passando por uma pequena cidade desconhecida, vejo cadeiras na calçada,
ocupadas por um fazedor de mundo para mim incompreensível, que assiste a
paisagem, sem sair do lugar, experimentando um tempo que se mede nos mesmos
segundos que o meu, e que aparentemente habita o mesmo espaço que eu, e cujo
mundo é completamente outro.
Se estivermos na mesma beira de
lago, sentados no tronco inclinado do mesmo coqueiro, nunca nos encontraremos,
eu e você. Estaremos cada um numa duração específica, em mundos simultâneos que
não se sobrepõem. Karina Zen acredita nesses mundos paralelos.
Somatório dos Meios
Karina Zen
Galeria Lunara
(5º andar da Usina do
Gasômetro)
Abertura dia 24 de abril, às
19h
Visitação até 25 de maio de
2014
de terças a domingos - das 9 às 21h
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