A Coordenação de Cinema,
Vídeo e Fotografia da Secretaria da
Cultura de Porto Alegre inaugura
no dia 28 de setembro, na Galeria Lunara da Usina do Gasômetro, a exposição
ARQUIVO 2.0 – DES_MEMÓRIAS FOTÓGRÁFICAS, da fotógrafa paraense Flavya Mutran.
A menina que corre da guerra no Vietnã, a criança africana à espreita
de um carcará ou um homem sozinho enfrentando uma fila de tanques de guerra.
Poucas pessoas não reconheceriam algumas dessas fotografias que já fazem parte
da memória coletiva das sociedades contemporâneas. Porém, imagine tudo isso sem
a figura humana. O que resta? O joguete faz parte da exposição de Flavya Mutran,
que pode ser visitada até o dia 30 de outubro na Galeria Lunara, entre terças e
domingos.
A mostra tem
curadoria do artista paraense Armando
Queiroz e trata do
poder de ficcionalização e ressignificação de fotografias históricas
disponíveis na web, explorando diferentes suportes pelos quais a fotografia foi
disseminando seus mais diferentes gêneros, desde a fotografia documental,
publicitária, artística e mesmo a vernacular. Pela
primeira vez em Porto Alegre, a mostra foi vencedora do Prêmio de Artes
Visuais Banco da Amazônia 2016, tendo sido exposta anteriormente em Belém/PA,
em maio/junho deste ano, no Espaço Cultural do Banco da Amazônia.
O trabalho é
resultado parcial da pesquisa de doutorado em Artes Visuais * [1]de
Mutran e se divide em duas séries – RASTER e DELETE.use –, que abordam questões
ligadas à realidade e ficção, matéria e memória, autoria e anonimato, apropriação
e compartilhamento de arquivos na web. São cerca de 100 imagens apresentadas em
suportes como placas de alumínio para offset,
vídeos, projeções e impressões em papel de tamanhos variados. Os
trabalhos provocam o espectador, que precisa vasculhar o próprio repertório
imagético atrás das lembranças fixadas a partir da imprensa, mídia, moda e o
tão atual compartilhamento de imagens via web.
Em DELETE.use, a fotógrafa seleciona imagens conhecidas como parte
das narrativas modernas e, simplesmente, apaga, ou melhor, deleta a figura humana,
como uma
estratégia de reocupação virtual da fotografia enquanto espaço social “Não são fotografias, e sim, espaços de encontro. A série
DELETE.use autodefine o duplo risco do apagamento e (re)uso de algo, que neste
caso não exclui, e sim sugere novas conexões, inclusões”, diz Flavya em seu
texto de apresentação.
A reflexão sobre o conceito de des_memória fica evidente em
RASTER, em que a fotógrafa exibe as transcrições visuais e sonoras dos códigos
de imagens também coletivamente muito conhecidas, explorando a plasticidade das
versões alfanuméricas da linguagem de computadores. Nesta, a fotógrafa
apresenta 12 clássicos da fotografia universal, porém em suas versões
algorítmicas. “Embora possa parecer uma tentativa vã de mensurar o que não tem
medida, me ajuda a lidar com o fato de que nem mil palavras, sequer imagens,
são capazes de valer mais que o tempo ou o espaço da memória”, afirma.
Além de ponderar sobre o papel cultural da fotografia, a artista
também busca proporcionar uma nova experiência do público com as imagens
clássicas, já que apesar de ser uma pesquisa sobre o universo fotográfico, o
contato não ocorre com fotografias formalmente expostas na galeria, e sim
vídeos, objetos, livros e instalações, que resultaram na produção do livro de
mesmo título, que será lançado no dia da abertura para convidados.
A artista vai participar de dois momentos de bate-papo com as
pessoas interessadas em trocar experiências sobre as
práticas e reflexões relacionadas
à fotografia, arquivo, memória-esquecimento,
coautorias e relações entre a imagem e palavra oral ou escrita. Nos dia 8 e 29 de outubro, dois sábados, Flavya Mutran realizará
uma atividade com interessados em registrar suas lembranças e esquecimentos
diante das imagens da série DELETE.use, na Galeria Lunara, das 15h às 17h. As
atividades são públicas e gratuitas.
SERVIÇO
Arquivo 2.0 – DES_MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS
de
Flavya Mutran
Curadoria: Armando
Queiroz
Abertura: 28 de setembro – quarta-feira – às 19h
Período
expositivo: 29 de setembro a 30 de outubro de 2016
Local: Galeria LUNARA
Endereço: 5º andar, Usina do Gasômetro
Av. Pres. João Goulart, 551 - Centro, Porto
Alegre/RS
CEP:90.010-120
Técnicas: Instalação, vídeos e objetos.
Horários: Segunda a sexta-feira, das 10h às 21h
FLAVYA
MUTRAN
É
paraense e atua no campo da arte e comunicação desde 1989. Mestre em Artes
Visuais pelo PPGAVI do Instituto de Artes da UFRGS (Porto Alegre/RS), ARQUIVO
2.0 é sua pesquisa de doutorado com estágio no Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior na Faculdade
de Belas Artes da Universidade de Lisboa/PT (PDSE, BOLSISTA CAPES), com ênfase
em compartilhamentos de fotografias via web.
Participa de exposições no Brasil e no
exterior desde os anos 1990, tendo recebido prêmios e com obras nos acervos da
Coleção Pirelli/MASP (São Paulo/SP); na Coleção Joaquim Paiva em comodato no
MAM-RJ (Rio de Janeiro/RJ); na coleção de Fotografia Contemporânea Paraense do
Museu de Arte Contemporânea do Pará (Belém/PA); no MARGS - Museu de Arte do Rio
Grande do Sul e MAC-RS (Porto Alegre/RS).
Sua primeira individual, ‘PALIMPSESTOS’,
de 1996, foi exposta em várias capitais brasileiras (Belém/PA; Macapá/AP;
Fortaleza/CE; Aracajú/SE; Natal/RN; Cuiabá/MT; entre outras), tendo trabalhos
da série sido expostos na Mostra “Antarctica Artes com a Folha”, em São
Paulo/SP (1996), publicados e indicados em 1998 e 1999, respectivamente para o
Prêmio Nacional de Fotografia da FUNARTE, do Rio de Janeiro/RJ.
Em 2010, sua segunda individual,
PRETÉRITO IMPERFEITO DE TERRITÓRIOS MÓVEIS foi premiada com o XI Prêmio Funarte
Marc Ferrez de Fotografia, na categoria Pesquisa, Experimentação e Criação em
Linguagem Fotográfica, tendo sido exposta em Porto Alegre (Galeria Xico
Stockinger, abril 2011), Belém (Espaço Cultural Banco da Amazônia,
outubro/novembro-2011) e São Paulo/SP (Projeto Physis Soma, Casa das Rosas, novembro de 2013 a fevereiro de 2014).
O projeto Arquivo 2.0 é sua terceira
individual, e é resultado parcial da pesquisa de doutorado em Poéticas Visuais,
desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de
Artes da UFRGS, em Porto Alegre/RS. Recebeu o Prêmio de Artes Visuais Banco da
Amazônia 2016, e foi exposto em Belém/PA, entre maio e junho de 2016.
flavyamutran@gmail.com
[1] Doutorado em Poéticas
Visuais no Programa de Pós-Graduação no Instituto de Artes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
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