

O artista alemão Thomas Demand escolheu Porto Alegre para apresentar sua nova série “Dailies”, um trabalho inédito e um tanto distinto de suas imagens mais conhecidas, em geral em grande escala, fotos de cenários construídos em papel que parecem reais. Pode ser a Casa Branca, na série “Presidency” (2008), uma floresta, como em “Clearing” (2003), exibida na Bienal de São Paulo, em 2004, ou simplesmente um banheiro, “Bathroom” (1997).
Como um ilusionista, Demand apresenta imagens que não parecem falsas, mas afinal numa era marcada pelo photoshop e por fotos digitais de simples manipulação, o real deixou de ser uma questão. Mesmo assim, quase arquetípicas ou mesmo ideais, essas imagens são tão corriqueiras como a própria realidade.
Um de seus trabalhos mais impressionantes foi “Grotte” (2006), a imagem de uma imensa caverna falsa, exposta na ilha de San Gorgio Maggiore, por ocasião da Bienal de Veneza, em 2007, em uma exposição individual organizada por Germano Celant, da Fundação Prada. Na exposição, via-se primeiro a imagem, em grandes dimensões (198 x 440 cm); depois uma sala repleta de cartões-postais e documentos sobre cavernas, para se chegar à última sala, a maquete de 36 toneladas que serviu de modelo para fotografia. O artista nascido em 1964, na cidade de Munique, revelou aí seu processo, mas, ao contrário de um mágico que quando revela seu truque faz com que ele não tenha mais graça, tornou aí seu trabalho ainda mais intrigante.
Atualmente, Demand apresenta uma retrospectiva de sua obra na Galeria Nacional, em Berlim, um dos mais belos prédios modernistas de Walter Gropius, onde possivelmente encerre um ciclo. Na entrevista a seguir, concedida especialmente por ocasião da mostra gaúcha, o artista diz que escolheu o Brasil, para sediar uma nova fase, que se inaugura com “Dailies”. Ele conta que buscou imagens “leves, felizes e um pouco bobas”, o que pode parecer um pouco ingênuo. Mas quando a arte nos deixa nesse estado, ela não nos torna mais humanos?
Suas fotos de maquetes que se parecem como se fossem lugares reais são o que melhor conhecemos. O que você fez antes, Como você começou a criá-las? Estudou fotografia?
Thomas Demand: De certa forma, sou um amador, sem nenhum tipo de treinamento em fotografia e nem me vejo como um. Estudei pintura e escultura e, por muitos anos, trabalhei apenas com coisas sem valor, papéis e objetos de vida curta a partir de materiais baratos. Eu sempre pensei que poderia fazer mais versões para estudo deles, se fosse o caso.
Em todos seus trabalhos que já vi, nunca há pessoas neles, o que nos faz focar sempre no aspecto arquitetônico de suas imagens. Esse é o centro de sua atenção? Por quê?
Demand: Eu trabalho com espaços que, espero, atraia o observador e sua imaginação. Creio que figuras humanas nesses locais iriam, basicamente, transformariam a imagem num momento anedótico.
“Presidency” deveria ser uma cópia fidedigna à Casa Branca? Ou você se preocupa em criar um mundo melhor em suas imagens?
Demand: Para mim, é mais parecido com um palco: uma caveira, um rosto enegrecido e uma fala. Todo mundo sabe que peça é essa: “Hamlet”, apesar do lugar, do tempo, do ator etc. Pense em todos os programas de TV, as caricaturas, os filmes com Harrison Ford... Todos eles são sempre sobre representação, não sobre como o lugar realmente é. Eu sei que você sabe e você sabe que nós sabemos.
Melhor lugar? Não, essa não é minha intenção. Eu não tenho uma missão, eu só faço trabalhos que desafiem minha inteligência e não me entediem. Felizmente, outros vêem isso da mesma forma e parece que eles vêem alguma coisa nesses trabalhos que não percebem em nenhum outro lugar dessa forma. Eu não tenho certeza se meu trabalho se insere na classificação “boa arte”, mas boa arte sempre me faz ver o mundo de um ângulo diferente, ou então, de repente, me tornar consciente do que vejo.
Em seus trabalhos, alguns espaços são reais, como a Casa Branca, na série “Presidency”, e outros ficcionais, certo? Você pode descrever o processo de escolha de um tema para ser transformado em imagem?
Demand: Todos eles são reais, pois eles estão à frente de minha câmera. “Presidency” foi um trabalho comissionado, mas a Sala Oval nunca teve esse aspecto. Eu misturei cinco versões diferentes em uma só: o carpete é Clinton, a cortina, do Bush pai, as coisas no armário, do Bush filho, e assim por diante. Não era para ser a imagem de um lugar exatamente como ele é, mas de um lugar que pode ser reconhecido.
Já que o mundo é tão cheio de coisas, porque criar imagens falsas com a fotografia? Você admitiria que, no final, você é mais um escultor que um fotógrafo?
Demand: Apenas para pagar imposto de renda eu tenho que declarar que tipo de artista eu sou, e eu não me preocupo em me categorizar de outra forma. A meu ver, eu crio imagens e a forma como eu as faço, espero, seja interessante. Como o pintor usa tinta a óleo e o escultor, gesso, eu utilizo papel e um aparato para fazer imagens.
As coisas se confundem também, e todas elas são temporárias, afinal. Assim, enquanto eu não produzo lixo venenoso, estou OK em trazer coisas para o mundo. O único problema é se eles atrapalham seu espaço, então você precisa dar um jeito de passar a volta deles.
Então, que tipo de artista você se declara quando paga impostos?
Demand: Escultor. É melhor para pagar impostos.
Por que mostrar a maquete de “Grotte" (Gruta), em Veneza, 2007?
Demand: Por que não? Se o processo é bom e sólido, você pode apresentá-lo uma vez, não? Você disse que se lembra dele e eu realmente acredito que isso é o melhor que poderia ocorrer. Eu visitei o ateliê do [Francis] Bacon, uma vez, e me surpreendi muito com o quanto eu aprendi fazendo isso. Pode-se se dizer que seria muito estúpido fazer isso, mas de fato não foi. Eu fiquei também muito satisfeito com o contexto: uma ilha, um festival, não ser um museu, e contar com três elementos em uma só instalação: a documentação, a imagem e o objeto que foi fotografado.
Seu trabalho na Bienal de São Paulo, em 2004, era bastante complexo, misturando imagem e vídeo. “Forest” (floresta), a fotografia, foi inspirada no parque Ibirapuera? Como foi criar esse trabalho?
Demand: Eu queria trabalhar com arquitetura, o que é sempre uma motivação para mim. O que foram as estruturas do Niemeyer, pelas quais se observa o parque, mas que ainda são chão e teto, muito panorâmicas, o que se transforma num espetáculo. Eu pensei que poderia refletir isso nas paredes externas da construção que fizemos dentro do pavilhão. Mesmo essa estrutura que criamos parecia que fazia parte do espaço _que foi o único oferecido pelo curador, além do banheiro masculino. Então, misturamos elementos do prédio junto com uma nova parte e acrescentamos a sala de cinema. Eu entendi todo esse complexo como um pavilhão que construí lá. Não foi uma mostra temática, eu reuni seis trabalhos que poderiam estar juntos, mas eu não busquei passar uma mensagem coerente com essa combinação.
Quem constrói os modelos que você usa? O que você faz com eles depois de fotografá-los?
Demand: Sou eu mesmo quem os faz, eles tem tamanho natural e eu os jogo todos no lixo depois que os usei.
Sua nova série “Dailies” é menos suntuosa do que seu trabalho anterior, apesar de “Bathroom”, de 1997, que se parece com ela. Por que se tornar tão introspectivo agora?
Demand: Eu queria trabalhar com imagens que carregam sua própria razão de existência, não porque elas contam a história de um acidente que não é visível na imagem, ela mesma. Mas de fato pertencem à mesma família do trabalho que você mencionou, talvez parentes distantes, pois eu continuo buscando pegar e recriar um momento no (meu) tempo. Esse tempo não é memória pública, mas a minha própria. No entanto, no fundo eu não acredito que haja tanta diferença entre os indivíduos. Ao mesmo tempo, é obviamente apenas aquilo que você vê, no sentido que não é nem simbólico, nem surreal ou moralizante. É apenas aquele pequeno descobrimento naquele momento que se foi como qualquer outro momento mais para frente. Eu gosto muito do fato que todos os celulares têm câmeras agora e eu as uso muito, então em determinado momento eu queria utilizar todo o material que coletei ao longo dos anos. Creio que os outros trabalhos são como romances enquanto esses são poesias – talvez poemas com rimas, mas você pode pegar a imagem.
Normalmente, suas fotos, talvez porque não retratem pessoas, pareçam um pouco melancólicas, mas “Dailies” são bastante felizes e engraçadas, como aquela com o banquinho e uma flor estampada sobre ele. Esse é um momento feliz em sua vida? Ou a arte deveria ser mais feliz agora para “compensar a tristeza do mundo”, como dizia Pina Bausch?
Demand: Eu pensei que elas deveriam ser leves, felizes e um pouco bobas também. E rápidas de serem feitas, para não se pensar: quanto tempo isso levou para ser feito. Quando se faz um filme longa-metragem, todo fim do dia observa-se o que foi filmado durante o dia e isso se chama “Dailies”: como a colheita, mas não o filme ainda. Esse projeto ainda está relacionado com outros trabalhos, mas para mim, o Brasil é um lugar felizes, um começo fresco, e essa exposição cabe bem aí. Estou tendo uma grande retrospectiva em Berlim ao mesmo tempo, que se chama “National Gallery”, e você pode imaginar que a natureza dessa mostra é muito diferente da que vou realizar em Porto Alegre. Ambas ocorrem de forma paralela e eu gosto muito dessa oportunidade.
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Sob a aparente placidez das obras de Thomas Demand percebe-se uma atmosfera de inquietação latente. Ao observador desavisado, e não familiarizado com o processo criativo do artista, resta a intuição como chave única para o ingresso nos ambientes frequentemente burocráticos e assépticos fotografados por este alemão, residente em Berlim, autor de alguns dos trabalhos mais intrigantes da arte contemporânea.
Situada em espaços intermediários, a obra de Demand logra suspender momentaneamente a realidade ao criar zonas neutras que desafiam a percepção do espectador à medida em que põem em xeque a atribuída correspondência entre a imagem fotográfica e o mundo real que ela supostamente retrata.
Partindo de fotografias encontradas nos meios de comunicação de massa, não raro carregadas de matizes políticos (embaixadas, a Casa Branca, a cozinha clandestina de Sadham Hussein), ou de ambientes altamente familiares, de características universais (um céu estrelado, uma floresta), o artista se propõe a tarefa hercúlea de desenvolver maquetes em escala real, feitas de cartolina e papel, as quais reproduzem quase à perfeição as imagens originais. Superada esta etapa, ele retorna ao suporte fotográfico para registrar e perenizar esses espaços artificialmente construídos e só então levá-los a público em galerias e museus no formato bidimensional. Uma vez concluído o processo, via de regra os cenários são destruídos.
Ao longo da última década, Demand consagrou-se como singular artista contemporâneo ao valer-se de processos criativos de técnicas mistas, que vão da mencionada confecção de maquetes (algumas delas já vistas em espaços expositivos, exceção à regra) ao registro fotográfico, passando inclusive pelo cinema. Neste último caso, ele produz a animação de seus cenários (uma escada rolante, um túnel rodoviário à semelhança daquele onde morreu Lady Di, em Paris) a 24 quadros por segundo, levando ao extremo sua busca por vestígios de vida em espaços inanimados. Embora escultor de formação, o artista se revela profundo conhecedor da técnica fotográfica ao fazer sofisticado uso da iluminação que lança sobre suas maquetes, indispensável à aura de realidade que emana de suas obras.
Para além do questionamento, ora político ora semiótico, da imagem fotográfica, e do virtuosismo do artista – capaz de enganar os sentidos do espectador apressado, tamanha a verossimilhança de suas obras –, nos trabalhos de Demand repousa uma expectativa de ação fadada à inércia, uma promessa narrativa apenas possível se artificialmente/mentalmente desenvolvida. Inabitados – jamais se vê figura humana em seus trabalhos –, os espaços divisados pelo artista são literalmente naturezas mortas, cujos vestígios de vida se apresentam exclusivamente no plano metafísico.
The Dailies, a exposição inédita que a Prefeitura de Porto Alegre tem a honra de receber em primeiríssima mão, apresenta características bastante distintas do conjunto comumente conhecido da obra de Demand. Além das imagens serem apresentadas em formato menor que de costume, mesmo porque reproduzem cenas cotidianas ou rotineiras, elas permitem uma maior empatia com o público e funcionam como blagues, flashes prosaicos do dia-a-dia.
Por fim, gostaria de agradecer imensamente a generosidade com que o artista recebeu este convite, tornando possível o contato real do público porto-alegrense com sua instigante obra. Não poderia aqui deixar de mencionar o apoio fundamental do Instituto Goethe, no nome de seus diretores Alfons Hug e ??? Sauer, parceiro em tantas iniciativas desta Prefeitura, que foi sensível à importância do presente projeto e tanto nos ajudou a torná-lo viável.
Bernardo José de Souza
Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia
Secretaria Municipal de Cultura
Prefeitura de Porto Alegre
EXPOSIÇÃO
CECIL BEATON – PORTRAITS
De 25 de setembro a 08 de novembro Galeria Lunara – 5° andar da Usina do Gasômetro.
COQUETEL DE ABERTURA DIA 25 SETEMBRO ÀS 19H NA GALERA LUNARA.
Curadoria da exposição Portraits, de Cecil Beaton:
O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA
22 DE SETEMBRO A 08 DE NOVEMBRO DE 2009
GALERIA LUNARA E SALA P. F. GASTAL . USINA DO GASÔMETRO
Dada sua magnitude, a revolução burguesa que eclodiu entre 1789 e 1848 – originada na França e na Grã-Bretanha, respectivamente – transformaria em profundidade a história humana, encontrando paralelo talvez apenas na remota invenção da escrita, da cidade ou do Estado. Ao passo em que as forças sociais, políticas e econômicas concorriam para aquele desfecho, o mundo intelectual tratava de conceituar o esfacelamento do Ancien Régime através da criação de palavras que redefiniriam por completo o funcionamento das sociedades modernas: indústria, classe-média, capitalismo, socialismo, ideologia, etc.
Para Eric Hobsbawn, “os sessenta anos que separam as revoluções francesa e inglesa significaram o triunfo não da liberdade ou da igualdade em geral, mas da classe-média ou da sociedade burguesa liberal”, e os efeitos dessas mudanças se fizeram sentir fortemente sobre o século XX, quando a resposta à sociedade burguesa veio sob a forma do ameaçador espectro comunista (cem anos após o lançamento do Manifesto, em 1848) e com a revolta mundial contra o Ocidente, em revide à sua fúria expansionista. Como resultado desse processo, artistas e intelectuais produziriam ao longo do período um conjunto de obras dando conta dos reflexos daquelas revoluções sobre os padrões culturais, estéticos e comportamentais do mundo ocidental.
Interessada na representação da burguesia pelas artes visuais, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre lança novo projeto que busca melhor compreender alguns fenômenos culturais do cenário contemporâneo. Se nas décadas que antecedem as mencionadas revoluções havia o culto burguês aos hábitos, gostos, maneiras e personagens da aristocracia, na contemporaneidade observamos a ascensão da burguesia a um patamar que passa a ser ambicionado pelos baixos estratos sociais, não apenas pela posição de afluência daquela classe, mas pelos “objetos de desejo” que ela engendraria. Em suma, a alta burguesia substituiria a aristocracia, e a pequena burguesia, ou as chamadas classes médias, notabilizariam o século XX pelo consumismo, evidenciado no surgimento de poderosa indústria cultural e de meios de comunicação de massa responsáveis por vulgarizar a intelectualidade, borrando os contornos da alta cultura. Exemplos notórios desse novo tabuleiro são a reprodutibilidade técnica das imagens, o surgimento da fotografia e do cinema como artes de consumo popular e o crescente culto às celebridades, não raro figuras anódinas sob o prisma do meio intelectual.
O Discreto Charme da Burguesia, assim batizado em homenagem à obra-prima de mesmo nome do diretor Luis Buñuel, se propõe a discutir o assunto através de exposição fotográfica e de ciclo de filmes e palestras, os quais reúnem nomes e títulos capitais quando se trata da iconografia burguesa.
Encabeçando o projeto, uma exposição do célebre fotógrafo britânico Cecil Beaton, figura emblemática do jet-set cultural de meados do século XX e um dos mais caros representantes da quintessência do estilo inglês. Morto em 1980, ele passou a vida a viajar, convivendo com artistas e dividindo seu tempo entre a criação de cenários e figurinos para cinema e teatro, a fotografia de moda para a revista Vogue e os retratos de celebridades. As obras em exibição na Galeria Lunara foram cedidas pela tradicional casa de leilões do Reino Unido, Sotheby’s, detentora do espólio do artista e templo do sofisticado consumo da alta burguesia.
No que toca ao cinema, a Sala P. F. Gastal apresentará dezoito filmes em duas semanas de mostra, entre os quais pérolas da cinematografia européia das décadas de 1960 e 70, momento glorioso da sétima arte e período de ouro quando se trata da representação da burguesia. Entre eles não poderiam faltar obras de Luchino Viscontti, aristocrata e comunista, feroz crítico da classe burguesa; de Luis Buñuel, autor de dezenas de obras cujo olhar cáustico pousava sobre os arrivistas; de Federico Fellini e sua bela crônica do high-society italiano em A Doce Vida; de Michelangelo Antonioni e a incomunicabilidade que pautava a relação de um industrial com sua bela mulher em O Deserto Vermelho; de Rainer Werner Fassbinder registrando a hipocrisia de uma família burguesa em Roleta Chinesa, entre outros.
Coroando a programação, um dos títulos mais intrigantes do cinema direto, Grey Gardens, dos irmãos Maysles, obra admirada pelo cineasta João Moreira Salles, que após a exibição deste título e do seu documentário Santiago, sobre o mordomo da família Moreira Salles, debaterá ambos os filmes na Sala P. F. Gastal.
Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia
Secretaria Municipal de Cultura
galeria lunara – galeria dos arcos
edital ocupação 2010
ATENÇÃO PARA NOVO CRONOGRAMA
Inscrições: 26 de Outubro a 06 de novembro de 2009Seleção dos Trabalhos: 11 de Novembro de 2009
Divulgação da Seleção: 13 de Novembro de 2009
Devolução dos Portfólios: 16 a 20 de Novembro de 2009
A partir de 26 de Outubro de 2009, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia
estará recebendo inscrições de projetos de fotógrafos interessados em expor, no ano de 2010,
na Galeria dos Arcos ou Galeria Lunara, ambas situadas no centro Cultural Usina do Gasômetro.
Para realizar a inscrição o artista deverá apresentar:
1. Ficha de Inscrição
2. Portfólio contendo currículo e fotos
3. Projeto da exposição com previsão de número de imagens e respectivas dimensões
As inscrições ocorrerão no período de 26 de Outubro a 6 de Novembro de 2009
Informações
Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia
Av. Pres. João Goulart, 551 – Usina do gasômetro – 3º andar
F. 3289 8133/8135
O edital completo está postado abaixo, e pode ser encontrado, na íntegra (em word) no site:
www.portoalegre.rs.gov.br - link cultura – link editais
ou por e-mail galerialunara@gmail.com
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Processo administrativo nº 001.036786.09.8
Concurso nº 13/09
Seleção de Projetos para Exposições Fotográficas
na Galeria dos Arcos e na Galeria Lunara / 2010.
Inscrições encaminhadas via correio deverão ser postadas para o endereço acima, até a data limite da inscrição, 06 de novembro de 2009. Não serão aceitas inscrições com data de postagem posterior.
Ficha de inscrição preenchida (em anexo);
Portfólio contendo currículo (formação e exposições), com 08 a 10 fotos, para projetos destinadas à Galeria Lunara, e de 15 a 20 fotos para projetos destinadas à Galeria dos Arcos.
Projeto da exposição, com previsão do número de imagens e respectivas dimensões, para a ocupação da Galeria Lunara ou da Galeria dos Arcos.
4.5. O prêmio para os projetos selecionados consistirá em exposições nas Galeria dos Arcos ou Lunara - ambas loca
Envio de convites a autoridades, artistas e fotógrafos;
Divulgação institucional da exposição na imprensa.
Fornecer arte-final e fotolitos do convite. A arte-final deverá ser submetida à aprovação da Coordenação de Comunicação Social/PMPA, com antecedência mínima de 45 dias da data marcada para a exposição.
Obs.: No convite deverá constar o logotipo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, cuja arte será fornecida pela Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da SMC, como Rea
11.Disposições Gerais:
acesso ao regulamento:
Nome do Fotógrafo:
Telefone:
E-mail:
Endereço:
Cidade: UF: CEP:
Título do Projeto:
Em caso de inscrição em grupo, informar nome dos outros participantes:
Projeto de exposição para: ( ) Galeria dos Arcos ( ) Galeria Lunara
Porto Alegre, de de 2009.
Assinatura do Fotógrafo
Dando continuidade à parceria que vem desenvolvendo desde o ano de 2005 com a Galeria Vermelho, de São Paulo, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre inaugura no próximo dia 7 de agosto, às 19h, a exposição do artista Maurício Ianês, na Galeria Lunara (no quinto andar da
A exposição tem o título de Inefável e exibirá a videoinstalação de mesmo nome realizada especialmente para a Galeria Lunara durante a passagem do artista por Porto Alegre, em julho último. Concebida com o apoio do Coral do DMAE, a obra decompõe a palavra inefável em oito letras, que se transformam em uma espécie de mantra na voz simultânea de oito cantores registrados em vídeo, cujos rostos aparecem em oito telas-planas dispostas nas paredes da Galeria. Ianês é um artista multimídia que vem recebendo ampla atenção no cenário artístico contemporâneo, especialmente através de suas performances, mais sabidamente aquela em que ficou duas semanas vivendo no prédio da Bienal de São Paulo, inicialmente nu e sem comida, cobrindo-se e alimentando-se exclusivamente daquilo que lhe era dado pelos visitantes da mostra de arte mais importante do País.
Maurício Ianês já participou de residências artísticas em cidades como Paris e Viena, além de ter exposto na conceituada Whitechapel Gallery, em Londres, em 2007, bem como em galerias na Islândia, no País de Gales, na Nova Zelândia, entre outros países.
A exposição Inefável pode ser visitada de terça a domingo (entre 9 e 21 horas), até o dia 2 de setembro. O coquetel de abertura da exposição acontecerá no dia 7 de agosto, às 19 horas.
Para contatar Maurício Ianês, entre em contato com a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia pelo telefone 51 32898133 ou com o próprio artista pelo telefone 11 81140003.
A exposição O Riso e a Melancolia é uma coletiva que reúne trabalhos em vídeo e fotografia assinados por nomes como Yves Klein, Paul McCarthy, Thomas Hoepker, Terrence Koh, Martín Sastre, Guto Lacaz, Kátia Prates e Yoshua Okon, vários deles expondo pela primeira vez no Rio Grande do Sul. Segundo os curadores Bernardo de Souza e Mariana Xavier, “variantes de um amplo espectro emocional, o riso e a melancolia respondem por estados de espírito e de ânimo aparentemente opostos, porém complementares. Não obstante as diferentes acepções destes termos no curso da História, eles permanecem tão emblemáticos quanto reveladores da experiência humana. Por esta razão, decidimos montar uma coletiva que mostrasse como a arte contemporânea vem abordando o tema”.
Mais detalhes no post abaixo.
O RISO E A MELANCOLIA
Variantes de um amplo espectro emocional, o riso e a melancolia respondem por estados de espírito e de ânimo aparentemente opostos, porém complementares. Não obstante as diferentes acepções destes termos no curso da História, eles permanecem tão emblemáticos quanto reveladores da experiência humana.
Considerada uma doença na Grécia Antiga, a melancolia deixou de ser uma moléstia no período romântico, quando se difundiu a ideia de que os indivíduos por ela afetados estariam a experimentar algo de profundamente enriquecedor para a alma humana.
Desde o século XX, entretanto, mais precisamente a partir das teorizações de Sigmund Freud, a melancolia foi comparada ao estado de luto, sem que, contudo, fosse constatada nela uma perda real, senão uma perda narcisista ou emocional.
O riso, por seu turno, consiste na expressão física motivada por diferentes naturezas de humor, tais quais a sátira ou a ironia, que estão intimamente relacionadas ao contexto sóciocultural de onde emergem e que as enseja. Quer na filosofia, quer na psicologia, o riso se estabelece como reação aos estímulos de ordem intelectual, configurando-se em um fenômeno fundamentalmente humano. De acordo com o filósofo francês Henri Bergson, caso o mundo fosse habitado por seres totalmente desprovidos de emoções, e exclusivamente movidos pela racionalidade, ainda assim haveria o riso, porque resultante de um processo mental que decorre de julgamentos morais. De maneira inversa, em um mundo dominado exclusivamente pelas emoções, o riso não seria possível, e o excesso de sentimentos nos envolveria numa atmosfera puramente melancólica.
A temática dessa mostra - o riso e a melancolia - partiu de nosso desejo de discutir esses dois extremos do humor em relação a seus papéis na história da arte. Há alguns séculos, a melancolia tem interessado às artes com algum destaque, embora diversamente facetada dependendo do momento histórico ou artístico que a explorou. Já o riso, surpreendentemente, ganhou pequena atenção no contexto da crítica de arte, algo que vem mudando na contemporaneidade com o surgimento de importantes publicações sobre o tema, e com o resgate de alguns textos clássicos sobre o assunto, como os dos supracitados Bergson e Freud.
Por tudo isso, é com muito entusiasmo que trazemos a público a exposição O Riso e a Melancolia, uma empreitada inédita para ambos, e à qual dedicamos bastante tempo e trabalho. Não apenas somos curadores de primeira viagem, como também não temos a pretensão de exaurir a temática, mas decidimos ir adiante com essa tarefa por estarmos confiantes de que nossas escolhas - as quais incluem alguns artistas nunca antes apresentados no Brasil - serão um deleite para o público das Galerias Lunara e Iberê Camargo, bem como da
A quem soar exagerada tal afirmação, convidamos a comprová-la assistindo aos vídeos dos latino-americanos Yoshua Okon e Martín Sastre, bem como do importantíssimo artista norte-americano Paul McCarthy. Este último terá a Galeria Lunara dedicada exclusivamente à apresentação de seu vídeo Painter, o qual faz uso de certa linguagem televisiva para debochar do mundo artístico e das razões que podem levar o artista a permanecer criando. Esses três trabalhos mostram como o riso pode ser útil na construção de uma crítica social e política, ao tempo em que a reflexão por eles provocada está embebida numa inegável melancolia.
Teremos a grande honra de exibir a emblemática fotografia Saut Dans le Vide, do francês Yves Klein, sem dúvida uma das obras de arte mais importantes do século XX: um ato suicida, representado com visível deleite na expressão do artista, de braços abertos em seu salto para o vazio. Vazio também abordado por Kátia Prates de maneira sublime em sua apresentação de um céu de azul intenso, cuja extraordinária beleza beira o absurdo.
Apresentaremos ainda os comentários fotográficos do paulista Guto Lacaz, os quais revelam o saudosismo inerente à atual passagem da tecnologia analógica para a digital, porém de maneira bem-humorada.
Impossibilitados de trazer a Porto Alegre uma obra do norte-americano Jeff Koons – nome definitivo para a discussão do humor na arte contemporânea –, decidimos exibir um documentário sobre sua trajetória artística. Seus trabalhos visualmente deslumbrantes remetem à melancolia da infância perdida e ao fascínio pelo estrelato não desprovido de ironia. Esse filme será exibido ao lado de uma performance de Terence Koh, cujas relações com o mercado de arte não deixam também de ser bem humoradas, quer seja pelas cifras astronômicas alcançadas por suas desconfortáveis obras, quer pela apresentação desavergonhada do sexo e de sua intensa vida privada.
Outro destaque dentro da mostra é o norte-americano William Wegman, que embora seja um nome capital quando se trata do humor na arte contemporânea, permanece pouco conhecido no país; seus vídeos de cães Weimaraners antropomorfizados retêm a tristeza do olhar canino, causando no espectador um sorriso melancólico.
Ausente dessa mostra, o humor da arte britânica nos anos 1990 deu a tônica ao debate acerca da produção artística contemporânea, a exemplo do que já havia sido feito pelo Dadaísmo no início do século XX. A ironia, quintessência da cultura inglesa, marcou aquela década que antecede o ataque terrorista às Torres Gêmeas, aqui representado em tons saturados pelo célebre fotógrafo da agência Magnum, Thomas Hoepker, que revestiu a tragédia de 11 de setembro de 2001 com matizes daquela fina ironia.
Se ao final do século XX o humor pareceu ser a chave para um mundo carente das perspectivas históricas modernistas, o início do século XXI, após o inevitável confronto com a orquestrada tragédia de dimensões épicas em Nova Iorque, recuperou ambos os registros como complementares e essenciais à percepção dos fenômenos contemporâneos.