segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Portraits de Cecil Beaton na Galeria Lunara


EXPOSIÇÃO
CECIL BEATON – PORTRAITS

De 25 de setembro a 08 de novembro Galeria Lunara – 5° andar da Usina do Gasômetro.


COQUETEL DE ABERTURA DIA 25 SETEMBRO ÀS 19H NA GALERA LUNARA.

Curadoria da exposição Portraits, de Cecil Beaton: Bernardo José de Souza


O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA

22 DE SETEMBRO A 08 DE NOVEMBRO DE 2009
GALERIA LUNARA E SALA P. F. GASTAL . USINA DO GASÔMETRO

Dada sua magnitude, a revolução burguesa que eclodiu entre 1789 e 1848 – originada na França e na Grã-Bretanha, respectivamente – transformaria em profundidade a história humana, encontrando paralelo talvez apenas na remota invenção da escrita, da cidade ou do Estado. Ao passo em que as forças sociais, políticas e econômicas concorriam para aquele desfecho, o mundo intelectual tratava de conceituar o esfacelamento do Ancien Régime através da criação de palavras que redefiniriam por completo o funcionamento das sociedades modernas: indústria, classe-média, capitalismo, socialismo, ideologia, etc.

Para Eric Hobsbawn, “os sessenta anos que separam as revoluções francesa e inglesa significaram o triunfo não da liberdade ou da igualdade em geral, mas da classe-média ou da sociedade burguesa liberal”, e os efeitos dessas mudanças se fizeram sentir fortemente sobre o século XX, quando a resposta à sociedade burguesa veio sob a forma do ameaçador espectro comunista (cem anos após o lançamento do Manifesto, em 1848) e com a revolta mundial contra o Ocidente, em revide à sua fúria expansionista. Como resultado desse processo, artistas e intelectuais produziriam ao longo do período um conjunto de obras dando conta dos reflexos daquelas revoluções sobre os padrões culturais, estéticos e comportamentais do mundo ocidental.

Interessada na representação da burguesia pelas artes visuais, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre lança novo projeto que busca melhor compreender alguns fenômenos culturais do cenário contemporâneo. Se nas décadas que antecedem as mencionadas revoluções havia o culto burguês aos hábitos, gostos, maneiras e personagens da aristocracia, na contemporaneidade observamos a ascensão da burguesia a um patamar que passa a ser ambicionado pelos baixos estratos sociais, não apenas pela posição de afluência daquela classe, mas pelos “objetos de desejo” que ela engendraria. Em suma, a alta burguesia substituiria a aristocracia, e a pequena burguesia, ou as chamadas classes médias, notabilizariam o século XX pelo consumismo, evidenciado no surgimento de poderosa indústria cultural e de meios de comunicação de massa responsáveis por vulgarizar a intelectualidade, borrando os contornos da alta cultura. Exemplos notórios desse novo tabuleiro são a reprodutibilidade técnica das imagens, o surgimento da fotografia e do cinema como artes de consumo popular e o crescente culto às celebridades, não raro figuras anódinas sob o prisma do meio intelectual.

O Discreto Charme da Burguesia, assim batizado em homenagem à obra-prima de mesmo nome do diretor Luis Buñuel, se propõe a discutir o assunto através de exposição fotográfica e de ciclo de filmes e palestras, os quais reúnem nomes e títulos capitais quando se trata da iconografia burguesa.

Encabeçando o projeto, uma exposição do célebre fotógrafo britânico Cecil Beaton, figura emblemática do jet-set cultural de meados do século XX e um dos mais caros representantes da quintessência do estilo inglês. Morto em 1980, ele passou a vida a viajar, convivendo com artistas e dividindo seu tempo entre a criação de cenários e figurinos para cinema e teatro, a fotografia de moda para a revista Vogue e os retratos de celebridades. As obras em exibição na Galeria Lunara foram cedidas pela tradicional casa de leilões do Reino Unido, Sotheby’s, detentora do espólio do artista e templo do sofisticado consumo da alta burguesia.

No que toca ao cinema, a Sala P. F. Gastal apresentará dezoito filmes em duas semanas de mostra, entre os quais pérolas da cinematografia européia das décadas de 1960 e 70, momento glorioso da sétima arte e período de ouro quando se trata da representação da burguesia. Entre eles não poderiam faltar obras de Luchino Viscontti, aristocrata e comunista, feroz crítico da classe burguesa; de Luis Buñuel, autor de dezenas de obras cujo olhar cáustico pousava sobre os arrivistas; de Federico Fellini e sua bela crônica do high-society italiano em A Doce Vida; de Michelangelo Antonioni e a incomunicabilidade que pautava a relação de um industrial com sua bela mulher em O Deserto Vermelho; de Rainer Werner Fassbinder registrando a hipocrisia de uma família burguesa em Roleta Chinesa, entre outros.

Coroando a programação, um dos títulos mais intrigantes do cinema direto, Grey Gardens, dos irmãos Maysles, obra admirada pelo cineasta João Moreira Salles, que após a exibição deste título e do seu documentário Santiago, sobre o mordomo da família Moreira Salles, debaterá ambos os filmes na Sala P. F. Gastal.

Bernardo José de Souza
Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia
Secretaria Municipal de Cultura


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