terça-feira, 6 de maio de 2014

2010

Resumo de 2010


Juliano Ventura, Eduardo Montelli e Letícia Bertagna - Basta este Nada
21/01 a 28/02

Tulio Pinto e Diego Amaral - Céus Artificiais
11/03 a 04/04

Nelton Pellenz/Dirnei Prates  - CineÁgua
08/04 a 09/05

Luisa Mello  - Lugar Nenhum
18/05 a 10/07

Rochele Zandavalli - Oculto
30/07 a 12/09

Bruno Borne - Seção Invertida
16/09 a 30/10

Avalanche - Estacione em Porto Alegre

25/11/2010 a 03/01/2011

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Juliano Ventura, Eduardo Montelli e Letícia Bertagna - Basta este Nada
21/01 a 28/02

Estimação
 A exposição mostra, nos procedimentos de três jovens artistas – Eduardo Montelli, Juliano Ventura e Letícia Bertagna –, um ponto de alternância entre o corriqueiro e o surpreendente, o sentido e o não-sentido, vividos no mundo concreto. A partir da captação e da manipulação digitais da fotografia e do vídeo, os trabalhos são concebidos em meio a um processo de ênfase no trivial.

Em Cão sem Rumo, Eduardo Montelli apresenta uma curtíssima captura em movimento de um cão também em movimento transformada em uma sequência de fotografias. Nestes recortes de instantes, percebemos a relação de ausência e presença trazida pela transição da paisagem quase vazia para passagem da figura do cão.
Golpes de Luz em Ambiente de Vídeo

Ainda nessa tensão entre imagem e ausência está o trabalho Golpes de Luz em Ambiente de Vídeo, de Juliano Ventura, que, por conta de suas grandes variações de luz, faz a pessoa parada em frente à câmera aparecer e desaparecer repetidamente. A luz do vídeo tem o potencial de interferir na iluminação do espaço onde for inserido.

Aproximando-se de Estimação e Suspensão, trabalhos provenientes de instalações experimentais concebido por Eduardo Montelli, a série Extremo, de Juliano Ventura, elaborada com a conversão de uma combinação dos fragmentos de uma imagem impressa para o formato digital, sugere possíveis interferências das imagens no campo dos objetos reais.

Há ainda o vídeo Uma Canção para o Útero, onde o cotidiano doméstico é indagado por ações que migram sutilmente entre o que diz e o que não diz respeito a ele mesmo. Trata-se de uma vídeoperformance baseada em poema homônimo (e inédito) da poeta pelotense Angélica Freitas. O vídeo apresenta uma série de ações vividas/experimentadas pela atriz Janaína Kremer, atividades estas que sugerem uma certa impossibilidade de serem cumpridas, finalizadas. 

Uma canção para o Útero


Tulio Pinto e Diego Amaral - Céus Artificiais
11/03 a 04/04



A exposição, intitulada Céus Artificiais, propõe uma utopia emergente para dentro da Galeria. A parceria entre Diego Amaral e Túlio Pinto traz o azul como indicador simbólico de um lugar ideal e unindo gestos opostos, gera uma geografia subjetiva. Na mostra, que segue até o dia 4 de abril, os artistas mostram o confronto entre seus processos. Por um lado, a reprodução da ausência através da linguagem fotográfica; por outro, a ativação do espaço pela presença material.

Num contexto digital, Diego Amaral opta pelo uso de uma câmera de filme 35mm. Seu universo imagético é construído através de criteriosa composição e o mínimo de informação visual. A hegemonia do azul, reproduzido mecanicamente em suas fotos, é confrontada pelo gesto seco, objetivo e irreprodutível. Munido de um marcador preto, o artista gera fronteiras presentes sobre planos pretéritos. A leveza implícita nas fotografias acaba evidenciando o peso e a inércia das imagens cristalizadas no papel, numa negação da queda a qual estamos submetidos.


Dialogando com isso, Túlio Pinto reativa a tremonha existente no espaço da galeria em uma instalação in situ. Com um ventilador e bolas azuis, o artista interage com o espaço e  traz movimento à sala ao fazer a cor flutuar na galeria, que, apesar de situada no alto de uma edificação, assemelha-se a um subsolo. Em um gesto lúdico, o carvão, que antes era armazenado no local, será substituído pela cor celeste das bolinhas "pairando" no ar.



Nelton Pellenz/Dirnei Prates  - CineÁgua
08/04 a 09/05


O Cine Água é uma ação coletiva proposta pelos artistas Dirnei Prates e Nelton Pellenz, e tem em seu mote estabelecer relações entre o cinema e as artes plásticas, ora através de abordagens diretas, ora através de tangências que subvertem as noções básicas do audiovisual.

A exposição Cine Água é composta por três trabalhos que se inserem nas premissas do coletivo: a ocupação não ortodoxa do espaço, o diálogo estreito que se estabelece entre as obras a partir de sua justaposição e a água, sempre presente como o elemento  aglutinador das idéias.

A forma peculiar da galeria propicia ações/intervenções em que o espaço físico não pode ser desconsiderado. O projeto, que aglutina diferentes propostas, se utiliza desta geografia incomum como eixo que conecta, potencializa e contextualiza os trabalhos.

Dirnei Prates e Nelton Pellenz já participaram individualmente de diversos salões, mostras e exposições nacionais e internacionais. Trabalham juntos desde 2006, quando organizaram a 1º Livre – Mostra de Vídeos Experimentais, no Atelier Livre do Centro Municipal de Cultura (Porto Alegre). Em 2007, apresentam as exposições Da Sala Escura ao Cubo Branco, na Usina do Gasômetro, e Lances de Vista – Paisagens, na Fundação Ecarta. No mesmo ano são curadores da 2ª Livre - Mostra de Vídeos Experimentais, apresentada na Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro.

Em 2008, recebem indicação ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas nas categorias novas mídias, pela exposição Da Sala Escura ao Cubo Branco, e fotografia e novas mídias pela exposição Lances de Vista – Paisagens.

Em 2009, realizam o projeto S.E.C.A., que consistiu em intervenções urbanas em Santa Catarina; recebem indicação ao Prêmio Filme Livre, no CCBB/RJ, pelo filme Tela Branca, e são os organizadores da exposição Infiltração, em Porto Alegre, que contou com trabalhos de 32 videoartistas brasileiros, espalhados em quatro espaços expositivos.

Atualmente, trabalham no projeto Google Water, que envolve registros em textos, vídeo e fotografia de deslocamentos por regiões do interior do estado do Rio Grande do Sul. 

Luisa Mello  - Lugar Nenhum
18/05 a 10/07


Luisa Mello, uma das selecionadas pelo Edital de ocupação da Galeria Lunara apresenta uma série de fotografias em pequeno formato, intitulada Lugar Nenhum.

As imagens, como prefere chamar a artista, apresentam lugares nunca especificados. A cor, a luz e a repetição das imagens, ora semelhantes, ora não, propõem um jogo lúdico com o olhar do espectador.

A artista fala da impermanência da sensação do espectador ao ver o mesmo lugar uma ou mais vezes. As imagens são uma alegoria que evocam outra realidade. Nascem da necessidade de dar forma à vivência sensorial de sentir e perceber lugares. Não importam quais sejam. É uma tentativa de "nominação" estética desses lugares através da experiência plástica.
Luisa Mello mora e trabalha em Belo Horizonte, Minas Gerais e nos últimos 4 anos vem se dedicando a viagens longas, cujo propósito é vivenciar outros lugares, no intuito de criar um novo projeto, um novo trabalho. A fotografia é uma das técnicas usadas pela artista. “Não me prendo a técnicas. É o conceito que vai determinar a técnica adequada para seja expressado. No caso de Lugar Nenhum, a fotografia é ponto de partida.”diz Luisa Mello

Rochele Zandavalli - Oculto
30/07 a 12/09

A artista Rochele Zandavalli apresentou, na Galeria Lunara a xposição Oculto, reunindo uma série de trabalhos em fotografia.
Graduada pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rochele Zandavalli atualmente é mestranda em Poéticas Visuais pelo mesmo Instituto. Desde 2000, integra o Núcleo de Fotografia da UFRGS, onde atua como pesquisadora responsável pelo Laboratório de Fotoquímica. Suas pesquisas incluem processos artísticos em laboratório e atelier aplicáveis à fotografia. Em sua produção destacam-se trabalhos com projeção de slides, alto-contraste, pintura e bordado sobre fotografias, dentre outros.
Na exposição Oculto, Rochele Zandavalli traz a público obras que são fruto de uma pesquisa envolvendo a mistura de técnicas analógicas e digitais, tendo como resultado duas séries complementares – uma sombria, outra psicodélica –, formando um conjunto de alto impacto visual, carregado de simbolismos. Sobre o corpo de dois meninos nus, a artista projeta imagens de flores e insetos, criando texturas que aderem aos corpos dos modelos como uma segunda pele, espécie de uniforme que faz referência ao universo pop, às HQs de super-heróis e ao mundo da moda.

Bruno Borne - Seção Invertida
16/09 a 30/10


A exposição, intitulada Seção Invertida, apresenta uma instalação específica para o local, em que o artista trabalha com animação em computação gráfica. A animação projetada consiste em sucessivas vistas do fundo da sala, completando o trecho recortado pela tela de projeção com uma imagem que, supostamente, deveria estar ali.

Bruno Borne é arquiteto e artista visual graduado pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Como artista, costuma fazer uso de projeções de animações digitais, relacionando computação gráfica com a arquitetura e as especifidades do local. Em seus trabalhos, Borne procura discutir questões relativas ao espaço e à virtualidade, utilizando recursos como a reflexão e o mise en abyme. Também produz profissionalmente ilustrações e animações para o mercado de arquitetura, tendo atuado em estúdios de destaque no Brasil.
Abaixo, texto assinado pela professora e crítica de arte Paula Ramos sobre a exposição Seção Invertida.
  
Um exercício de dúvida

O escuro e condensado ambiente da Galeria Lunara guarda várias especificidades, a começar pela sua antiga função: nele era armazenado e dispensado o carvão, matéria-prima para a usina que operava no local e que dá nome ao complexo administrativo-cultural gerenciado pela Prefeitura de Porto Alegre. Trata-se, igualmente, de um recinto expositivo que requer um diálogo com o próprio espaço, com suas singularidades arquitetônicas e com as relações estabelecidas com o espectador, uma vez que este é convidado a circular pela cavidade afunilada da tremonha tendo como anteparo finas, e aparentemente frágeis, passarelas metálicas. Apresentar um trabalho artístico de fôlego na Lunara demanda, portanto, um mergulho interpretativo e fenomenológico nas questões do próprio espaço. É o que Bruno Borne faz com sensibilidade, agudeza e competência.

Seção Invertida, título da instalação site specific de Borne, é composta, basicamente, de três elementos: (1) uma tela branca, esticada na parte inferior da pirâmide invertida que domina o espaço, (2) um projetor de imagens, junto ao teto e exatamente sobre a tela, e (3) uma animação, articulada a partir de sucessivas vistas da mesma concavidade, que completaria, de certa forma, a estrutura interrompida pela tela de projeção. No entanto, uma vez que o vídeo traz uma simulação da própria tela e, não somente isso, é composto de uma animação dentro da outra, o que Borne nos traz, na verdade, é a idéia do mise en abyme. Podemos traduzir a expressão francesa como “cair no abismo”. Adotado fartamente na literatura, no cinema e nas artes visuais, tal efeito explora as possibilidades de estranhamento a partir de um retorno da obra a ela mesma. No caso de Borne e, em especial, de Seção Invertida, essa sensação é ainda mais intensa e perturbadora, uma vez que o espectador está diante de um espaço real, diminuto e côncavo, no qual é projetada uma imagem virtual que guarda relações inequívocas com o primeiro. Por outro lado, como a ilusão se completa melhor quando se prepara uma situação na qual ela é esperada, o exercício da vertigem é pleno. E isso se deve tanto ao fato de a projeção se dar no orifício que se abre aos pés do espectador, forçando-o, portanto, a observá-la de cima para baixo, como ao fato de a instalação explorar a nossa dupla realidade perceptiva das imagens. Nesse sentido, o que temos aqui é também um exercício de persuasão e retórica, que engolfa o espectador num cenário real, mas ao mesmo tempo projetado.

Étienne Souriau nos lembra que, para a Estética, o espaço é pensado a partir de três pontos: existe, de um lado, o espaço da existência material, compreendendo, no caso das artes visuais, o ambiente no qual a obra é exibida e os espectadores estão; de outro, há o espaço diegético, correspondente ao local no qual a ficção da obra se realiza; e, por fim, há o liame entre os dois. De modo simplificado, podemos dizer que há o espaço real, o virtual, com toda sua existência em potencial, e o cruzamento entre os dois. É justamente a partir dessa terceira situação que Borne opera, explorando as possibilidades de coincidências, recortes e enquadramentos oriundos do diálogo entre um ambiente arquitetônico e as simulações que produz. A identificação das semelhanças e diferenças entre essas duas conjunturas, a real e a diegética, fica a cargo do espectador. É ele quem, chamado a se relacionar com a obra com toda a extensão de seu corpo e absorvido por sensações que, num momento imediato, provavelmente não conseguirá compreender, terá sua experiência re-significada e ampliada. Assim, na ambigüidade e na imbricação de conceitos e linguagens, Bruno Borne nos oferece uma possibilidade de oxigenar nossas percepções, amainar as certezas e intensificar as dúvidas, lembrando que, como diria Bertolt Brecth, das coisas seguras, a mais segura é sempre ela, a própria dúvida.

Paula Ramos

Crítica de arte, professora junto ao Instituto de Artes da UFRGS



Avalanche - Estacione em Porto Alegre
25/11/2010 a 03/01/2011 
 Um dos mais atuantes coletivos de artistas da capital gaúcha, a Avalanche ganha espaço na Usina do Gasômetro a partir de convite da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura. Além de uma mostra de filmes, iniciada já na semana passada e que se estende até 28 de novembro, a Avalanche inaugura no dia 25 de novembro, quinta-feira, às 19h, duas exposições na Usina, uma na Galeria dos Arcos (no térreo) e outra na Galeria Lunara (5º andar).

No mesmo dia, às 21h, a Avalanche lançou  na Sala P. F. Gastal o seu novo curta, A Mão do Homem Morto, de Matheus Walter e Virgínia Simone, produzido especialmente para a mostra. Esta ocupação de espaços, que atende pelo título Paraísos Perdidos Século XX, é uma oportunidade de ver em ação este criativo e irrequieto grupo de artistas, capitaneado por Virgínia Simone e Matheus Walter (posto antes dividido com Gus Jahn e Melissa Dullius, atualmente radicados em Berlim).


Uma produtora de filmes realizados em bitolas arcaicas como o Super-8 e o 16mm ou um grupo de jovens de aparência insondável, que circulam pela cidade sem pertencer em verdade a nenhum de seus guetos senão ao seu próprio ninho, sito à baixada da rua Santo Antônio? Inclassificável a priori, a Avalanche poderá ter na presente mostra suas criações conferidas em todas as suas frentes e ao mesmo tempo, permitindo ao público um contato amplo com o universo sui generis promovido por seus integrantes.


Para além do desgastado rótulo underground, e muito aquém do temerário mainstream, a Avalanche opera e transita entre múltiplas esferas: do cinema à moda, da música ao décor, da fotografia à memorabilia, da festa à labuta. Suas obras apóiam-se em fundamentos estéticos tão variados quanto os registros temporais de suas narrativas audiovisuais.



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